segunda-feira, 11 de julho de 2011

Quem tem ouvidos, oiça...



Ouve-se muitas vezes dizer que a Igreja perdeu o mundo do trabalho, o dos jovens e o da cultura; até mesmo nos extractos da população mais envelhecida e nos menos letrados e de cultura rural “a tradição já não é o que era” e a vida vai-se construindo cada vez mais à margem de Deus, dispensando-O como algo significativo no projecto pessoal de cada um. O diagnóstico é escuro e vago e o prognóstico reservado e superficial; no entanto é muito esta realidade que nos cerca e é este o mundo em que habitamos.


E é aqui e agora que a Palavra de Deus neste 15º Domingo nos interpela e desafia, especialmente com a parábola do semeador. Terá Deus desistido de nós? terá deixado de ter força de convocação e de mudança e de conversão a Sua Palavra? terá o Espírito Santo cansado de tantas resistências, dúvidas, medos, auto-suficiências... da nossa parte? Nada disto.


É verdade que ontem como hoje os problemas de cada tempo convidam ao relaxamento, é verdade que há forças contrárias que pretendem anular o poder de vida da semente - “pássaros, terreno pedregoso, espinhos” -, mas Jesus, qual lavrador experimentado, sabe que ao semear perde alguma semente, mas isso não O impede de continuar porque espera uma boa colheita. As dificuldades da vida devem ser para os cristãos oportunidades e desafios e nunca força de bloqueio ou convite a desânimos e desistências.


As resistências existem, os conflitos manifestam-se e as tensões experimentam-se, mas a semente do Reino está destinada a produzir frutos, apesar do risco do insucesso e do fracasso. O que Jesus nos manda é semear, outros hão-de colher e todos são compensados pelo esforço na sementeira.


Mais que um olhar escuro e crítico sobre o mundo tão cheio de contrastes ou juízo de valor leviano, sempre à espreita na nossa mente, o semeador que é Jesus Cristo convida-nos à persistência e coragem para recomeçar todos os dias, à audácia, criatividade e trabalho a ousar novas culturas e inventar novos campos, no horizonte de esperança que nos é garantido pelo sucesso da colheita. Apenas porque Deus nos ama, não desistiu, nem desistirá de nós nem do mundo.






Pe. Fausto
in diálogo 1300 (Domingo XV do Tempo Comum - Ano A)





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