Não tinha portagens, nem o 112 funcionava por ali, para responder a qualquer emergência. O traçado da estrada, que vai de Jericó a Jerusalém, é sinuoso e arriscado! Mas vinte e sete quilómetros chegaram para mostrar duas direcções diferentes, no mesmo caminho:
1. Primeiro, a direcção circular dos que giram e vivem a partir de si e para si, seguindo espontaneamente os seus desejos, projectos e instintos. É o caso dos ladrões que vêem no homem caído apenas um objecto a acrescentar à sua riqueza… ou o caso dos sacerdotes e levitas que vêem no homem meio-morto, pouco mais que um dejecto, com quem não vale a pena sujar as mãos. Todos estes vêem o pobre Homem a partir de si. E é porque vêem
assim,que passam ao lado. Estes só conhecem o sinal de sentido único: o do seu próprio interesse e satisfação!
2. Ao contrário, há um homem que vai noutra direcção: a dos que se vêem e revêem, a dos que vivem, para o outro e a partir do outro. É o caso de um samaritano, que estava de viagem e, por sinal, não ia em peregrinação. Ele chega a Deus, desviando-se, para o próximo. O samaritano não vê primeiro, para só depois se aproximar. Ao contrário, ele aproxima-se primeiro, para depois começar a ver. É precisamente porque se aproxima, que vê e se compadece. Este homem cumpriu a regra principal do código da aliança: o “outro” goza sempre de prioridade, na
estrada da sua vida. Porque «escuta» alguém, na berma da estrada, o bom samaritano dispõe-se a pagar a estalagem, como portagem!
E por isso, podíamos dizer, que a questão ética, do dever, começa por ser uma questão óptica, do ver. Ver os outros, a partir de si. Ou ver-se a partir dos outros! O samaritano olha o outro, mesmo que impotente e caído, já meio-morto e por isso calado, e percebe na sua indigência, um grito que chama pelo seu nome e o responsabiliza.
3. «Vai e faz o mesmo» (Lc 10, 37), disse Jesus. «Façamos então nosso o estilo do bom samaritano» - exortava-nos o Papa, no passado dia 13 de Maio em Fátima, no seu Discurso às organizações da Pastoral Social! E Bento XVI deixou-nos o desafio: «Aproximemo-nos das situações carentes de ajuda fraterna! E qual é esse estilo? «É o de "um coração que vê". Este
coração vê onde há necessidade de amor e age de acordo com isso» (Deus caritas est, 31). Assim fez, de facto, o bom samaritano».
4. Eis uma parábola actualíssima, no contexto de grave crise social, em que vivemos. Há, pela certa, em alguma família, na família de cada um, no meio do bairro ou nalgum grupo da paróquia, da Escola ou da empresa, “situações gritantes”, que ameaçam a estabilidade do casal, a vida de uma família, a existência de um grupo, a sobrevivência de um projecto, ou a falência de uma empresa. Há situações de abandono e de quase morte, sem ruído e sem protesto, que silenciosamente chamam por mim. E “ser” alguém é responder a este grito de salvação, estender a mão. Disto não depende apenas a vida do outro. Depende a minha própria vida também, como disse Jesus: “Faz isto e viverás” (Lc.10,28)!
O homem meio-morto, não está longe, nem apenas a teus pés.
Está perto de ti! Está nas tuas mãos!
Meditando para a 15º domingo do tempo comum. ABC da catequese
Sem comentários:
Enviar um comentário