Pequena carta ao Papa Francisco
Obrigada pela sua coragem constante.
Obrigada por lembrar ao mundo qual é a verdadeira essência
de um espírito cristão.
Obrigada por honrar o nome de São Francisco de Assis,
fugindo do espírito elitista e pouco fraterno que muitas vezes povoa a Igreja
Católica.
Obrigada por falar abertamente sobre injustiças nas suas
mais diversas formas e por se posicionar de forma tão clara em um mundo que
precisa desesperadamente de bons líderes.
Obrigada por pontuar claramente o protagonismo da
desigualdade num mundo que insiste em falar em meritocracia.
Obrigada por viabilizar que pessoas não católicas se sintam
abraçadas pelo seu discurso, que é sempre de aproximação e nunca de
afastamento.
Obrigada por dizer de forma tão clara que amor é amor,
afirmando que os homossexuais “são filhos de Deus e têm direito a uma família”.
Obrigada por reconhecer nos rostos dos milhões de refugiados
a imagem de Jesus Cristo, afirmando que eles são “forçados, como Jesus Cristo,
a fugir”.
Obrigada por se posicionar de forma firme nas questões
ambientais, em especial no que diz respeito às gigantescas ameaças à floresta
amazónica.
Obrigada por afirmar de forma categórica na sua encíclica
“Fratelli Tutti”, que os direitos humanos ainda não são suficientemente
universais.
Obrigada por dizer de forma tão clara que “a organização das
sociedades em todo o mundo ainda está longe de refletir com clareza que as
mulheres têm exatamente a mesma dignidade e idênticos direitos que os homens”.
Obrigada por dizer que, quase sempre, as pessoas que se
envolvem com grupos marginais o fazem em virtude de um total abandono estatal.
Obrigada por não se fechar numa redoma antiquada e por se
envolver de forma ativa nos problemas do nosso tempo. Por falar sobre
desinformação e sobre os discursos de ódio que povoam a internet.
Obrigada por manter seu olhar atento às violentas ameaças à
democracia espalhadas pelo mundo.
Obrigada pela sua preocupação constante com a situação na
América Latina, honrando suas raízes em vez de adotar uma postura eurocêntrica.
Obrigada por ser um incómodo tão genuíno para a maioria dos
católicos conservadores, que utilizam a religião como forma de exclusão e de
manutenção de privilégios, passando tão longe dos ideais pregados por Jesus
Cristo.
Obrigada por existir, obrigada por resistir.
Ruth Manus, em “Observador”
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