REZEMOS PELA RESSURREIÇÃO DAS CONSCIÊNCIAS
A Igreja nasceu de uma promessa: a de que Cristo está
connosco e estará até ao fim dos tempos. No início da Igreja, Santo Agostinho
afirmou algo de inesquecível sobre esta presença de Cristo. Para ele, a
presença de Cristo não era total quando apenas presente no pão e no vinho
consagrados, mas quando aos dons consagrados se unia a comunidade reunida em
torno ao Senhor.
Desta belíssima página de teologia podemos tirar uma
conclusão: a nossa relação com Cristo não será verdadeiramente espiritual se
não for igualmente comunitária e social. Um teólogo protestante chamado Karl
Barth afirmava com graça que o cristão do século XX devia ter a Bíblia numa das
mãos e o jornal na outra – porque o destino dos seus irmãos e irmãs, e de toda
a criação, não é um assunto estrangeiro à fé na encarnação.
Na verdade, vale a pena perguntar-nos: até que ponto a
pandemia da Covid 19 não nos fez mais insensíveis a tantas crises
internacionais na vida do mundo que deixaram de ser importantes diante da nossa
crise sanitária? Já chorei com a situação de tantos que em Cabo Delgado,
Moçambique, são vítimas da violência de interesses egoístas? A situação
política de Mianmar toca-me o coração? O facto de as mortes por malária em
tantos países de África serem superiores às mortes causadas pela Covid faz-me
pensar? O facto de o desemprego e os despedimentos por razões administrativas
privarem tantos de trabalho afeta o modo como rezo e como peço para todas as
pessoas o dom da ressurreição?
Se a Páscoa do Senhor apenas nos move o coração e não os
braços, ainda não demos todo o espaço ao Cristo total. Se a ressurreição nos
soa apenas a ressurgimento social e não nos renova o coração, com os seus
critérios e categorias, precisamos de um intenso e profundo Pentecostes. Com o
Papa, rezemos, de coração sincero e braços disponíveis, por todos aqueles que
arriscam a sua vida lutando pelos direitos fundamentais! Direito a ter terra,
teto e trabalho! Rezemos para que as nossas consciências acordem para quantos
lutam por estes direitos no contexto de ditaduras, regimes autoritários ou
democracias em crise.
P. Miguel Pedro Melo, sj (Colaborador da Rede Mundial de
Oração do Papa – Portugal)
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