sexta-feira, 7 de maio de 2021

 


REZEMOS PELA RESSURREIÇÃO DAS CONSCIÊNCIAS




A Igreja nasceu de uma promessa: a de que Cristo está connosco e estará até ao fim dos tempos. No início da Igreja, Santo Agostinho afirmou algo de inesquecível sobre esta presença de Cristo. Para ele, a presença de Cristo não era total quando apenas presente no pão e no vinho consagrados, mas quando aos dons consagrados se unia a comunidade reunida em torno ao Senhor.

 

Desta belíssima página de teologia podemos tirar uma conclusão: a nossa relação com Cristo não será verdadeiramente espiritual se não for igualmente comunitária e social. Um teólogo protestante chamado Karl Barth afirmava com graça que o cristão do século XX devia ter a Bíblia numa das mãos e o jornal na outra – porque o destino dos seus irmãos e irmãs, e de toda a criação, não é um assunto estrangeiro à fé na encarnação.

 

Na verdade, vale a pena perguntar-nos: até que ponto a pandemia da Covid 19 não nos fez mais insensíveis a tantas crises internacionais na vida do mundo que deixaram de ser importantes diante da nossa crise sanitária? Já chorei com a situação de tantos que em Cabo Delgado, Moçambique, são vítimas da violência de interesses egoístas? A situação política de Mianmar toca-me o coração? O facto de as mortes por malária em tantos países de África serem superiores às mortes causadas pela Covid faz-me pensar? O facto de o desemprego e os despedimentos por razões administrativas privarem tantos de trabalho afeta o modo como rezo e como peço para todas as pessoas o dom da ressurreição?

 

Se a Páscoa do Senhor apenas nos move o coração e não os braços, ainda não demos todo o espaço ao Cristo total. Se a ressurreição nos soa apenas a ressurgimento social e não nos renova o coração, com os seus critérios e categorias, precisamos de um intenso e profundo Pentecostes. Com o Papa, rezemos, de coração sincero e braços disponíveis, por todos aqueles que arriscam a sua vida lutando pelos direitos fundamentais! Direito a ter terra, teto e trabalho! Rezemos para que as nossas consciências acordem para quantos lutam por estes direitos no contexto de ditaduras, regimes autoritários ou democracias em crise.

 

P. Miguel Pedro Melo, sj (Colaborador da Rede Mundial de Oração do Papa – Portugal)

 


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