quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O meu cume dos quinze anos



Aos quinze anos, sou uma montanha. Sou alta, é difícil chegar ao topo, atingir a minha verdade.
Vejo as coisas de um patamar superior, vejo-as de cima e, daqui, não parecem muito nítidas, são pequenas questões que se tornam grandes problemas para mim.
Julgo-me grande e dona da razão, mas olho em volta… uma cordilheira. Nela há montanhas maiores do que eu que também não conseguem ver as coisas como elas são. Sou inacessível, poderosa, os meus ouvidos estão muito elevados e apenas ouço o que o vento me diz, mas: “por muito que o vento sopre, uma montanha nunca se inclina”. Por isso, não vou deixar que o vento me mude. Apenas a chuva me bate na cabeça e, aí, eu choro. Choro, porque o que vejo ainda se tornou mais turvo e agora não consigo ver. Tantas questões! Tantas intrigas! Tantos medos! Porquê?! Tenho a resposta debaixo do nariz e não consigo ver… ou não quero…
Parece tudo tão fácil, sou grande, tenho razão, sou ou não sou?!...
Mas no fundo, apenas vejo vultos e intrigas, nada é claro. Bolas! Se eu pudesse descer só um bocadinho, mas não! Eu não me vou inclinar.
De repente todo o mundo foi aberto para mim, mas de que me serve isso se daqui nada é claro?! Nada se vê bem ?!
O vento, não me afecta, apenas me sopra aos ouvidos. Não consegue mudar-me!
A chuva, bate-me na cabeça, faz-me chorar e arrasta pedaços de mim. Com o passar dos anos vai fazer-me inclinar. Mas, por agora, vou apenas olhar de cima, seguir a minha ideia e lutar para que o vento e a chuva não me façam descer. Sim!, porque eu já sou grande, sou uma montanha e tenho o direito de pensar como quero. Pena é não conseguir ver bem a razão das coisas e tudo me parecer errado, mas daqui, que posso eu mudar?! Nada, sou inalcansável.
Um dia, haverá chuva e trovões por cima da minha cabeça e eu vou chorar, chorar muito, mas talvez nesse dia eu consiga descer do meu cume e ver bem o que me rodeia. Talvez nesse dia o vento me diga a resposta que tanto procuro. Só espero que a queda não seja muito grande…
Aos quinze anos, sou uma montanha inacessível. O vento não me inclina, a chuva faz-me chorar e rouba pedaços de mim.
Aos quinze anos, sou grande e poderosa, mas tenho tantas questões…
Se calhar devia ouvir o vento e seguir a chuva, mas a queda é muito alta.
Agora, espero pela tempestade que faça descer os meus olhos à realidade das coisas. Mas até lá: “Por muito que o vento sopre, uma montanha nunca se inclina.” Será?...




Sofia Moreira





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